"Minha vida se baseia na militância de um mundo justo e igualitário. Para alguns, a lógica é o mercado, muitas vezes tratado como um Deus. Para mim, nesses quase 18 anos de vida política (sem tirar proveitos financeiros, ao contrário, perdendo e muito uma condição socioeconômica melhor), a luta coletiva e consciente é uma realização. A realização anônima de quem não busca holofotes, que rompeu com as origens pequeno-burguesas em prol da luta proletária. A vida é assim, nós fazemos nossas escolhas e é preciso estarmos preparados a pagar pelo seu preço".
(BRÁULIO WANDERLEY, em seu Blog).
A chegada
O vermelho da camisa e uma pequena estrela no canto do bolso, no lado esquerdo do peito, já demonstrava a ideologia daquele homem discreto, de início tímido, mas com uma expressão forte no rosto. Desta maneira simples, mas nem por isso sem firmeza, no último dia 09, Bráulio Wanderley concedeu três horas de entrevista coletiva aos alunos do 4º e 8º Período, do Curso de Comunicação Social da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
Dono de um currículo extenso para os seus poucos trinta anos, Bráulio é um pernambucano militante da esquerda socialista deste 1989. Passou pelo PCdoB de Jaboatão dos Guararapes até chegar ao PT. Atuou em diversos cargos em várias entidades estudantis, desde o ensino médio até a faculdade, onde se formou em História e fez graduação em Geografia. Após os movimentos estudantis, Bráulio se vincula aos movimentos sindicais docente. Atualmente, é estudante do Curso de Direito e Diretor do Sindicato de Professores de Pernambuco.
A Crise no PT
Durante a coletiva, respondeu diversas perguntas sobre a atual crise no Partido dos Trabalhadores e defendeu seus ideais político-partidários, onde se pôde perceber que Bráulio é uma pessoa plural. Abomina o individualismo e suas batalhas são sempre travadas em busca de um ideal coletivo, de uma luta social democrática e ética.
Questionado sobre a existência de unidade do PT ou de uma possível fragmentação, Bráulio acredita que existe uma atitude da sociedade de generalizar um milhão de partidários através da meia dúzia de pessoas sem ética que estão no partido. O entrevistado afirma que essa ânsia do PT em ampliar ao máximo as alianças ocorreu a partir da eleição de José Dirceu para o Diretório Nacional do Partido, em 1995, o que dá uma idéia de fragmentação, de perda de identidade, uma vez que o “no Brasil não se tem a tradição de política partidária, e sim de política personalista”, assinala Bráulio.
O Governo de Lula
Quando esboça o perfil do governo atual do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bráulio anuncia que, mesmo tendo como chefe do executivo nacional um ex-sindicalista, o movimento sindical não deve ser um braço de Lula, da mesma forma que o Governo Federal não deve se apoiar nele como um Estado Novo. “A política hoje é de reajuste. O movimento sindical já esgotou a paciência. Chegou a hora da cobrança”, adianta.
De acordo com Bráulio Wanderley, O PT errou durante muitos anos não cobrando a ética, pois achava uma qualidade fundamental. Mas, o famoso jeitinho brasileiro, transformou a ética numa obrigação e não numa diferenciação. “Criou-se um imaginário popular de que o PT não pode errar, não pode roubar. Mas as pessoas esquecem que o ser humano é passível de erro, antes de ser do Partido dos Trabalhadores, são humanos”, exemplifica.
Parlamentarista e marxista, Bráulio acredita que o mandado é do partido, não do candidato. Por isso, desde que se justifique o que é a fidelidade e a infidelidade partidária, mostra-se favorável à reforma constitucional polêmica que está em trâmite no Congresso.
Movimentos Estudantis
Quanto à atual gestão da UNE – União Nacional de Estudantes e da UBES – União Brasileira de Estudantes Secundaristas, este é breve a descrever: “o Movimento Estudantil, depois do Fora Collor, virou uma máquina de vender carteira de estudante. Por achar que o PCdoB do meu Estado (PE) não controlava a juventude como deveria, não me senti à vontade com essa postura omissa, pedi desfiliação”.
Abordado sobre o movimento de ruptura das Diretorias Executivas Estudantis com a UNE, em busca de uma nova sigla que as represente, Bráulio afiança que essa é mais uma forma de dividir o Movimento Estudantil. “Ele se despolitizou demais. Pecou por institucionalizar os filiados, ao invés de torna-los politicamente participantes. Se você não tem um objetivo maior sendo apreciado, que é a construção de uma sociedade justa, igualitária, no movimento sindicalista, imagine nos movimentos estudantis”, assinalou.
A Política no Vale do São Francisco
Segundo Wanderley, em Juazeiro criou-se um poço de vaidade e bipolaridade. Ou é Joseph Bandeira ou é Misael Aguilar. Não existe outro candidato. Existe o messianismo. “As pessoas aqui não votam no partido, votam na pessoa”. Acrescenta ainda que “a política deve ser feita dentro do partido, e não cama, mesa e banho. Não se deve passar cargo pra esposa, filho, marido”.
Em Petrolina, Bráulio explica que o PT já fez uma vice-prefeita, na pessoa da atual Deputada Isabel Cristina, que possivelmente será a candidata a prefeita nas próximas eleições municipais. O entrevistado atenta ainda que a política em Petrolina não pertence mais aos “Coelhos”, que, com sua estratégia, forma grupos de direita e de esquerda para estar sempre à frente do executivo municipal.
Considerações Finais
Wanderley observa que os Movimentos Sociais estão perdendo sua força. Reconhec
e também que a última grande manifestação, com a participação dos MS, foi o Fora Collor e depois disso não houve mais nenhuma de grande repercussão, “só uma pequena durante a privatização da Vale (do Rio Doce)”.
Exaltando a voz, como que num discurso político, Bráulio conclui anunciando que o que faz a diferença do Partido dos Trabalhadores é a liberdade de defendê-lo e de falar o que está errado, que é dada aos seus militantes filiados. Por isso, entendo, o bom e pleno desenrolar da entrevista.